A Missão

A todos os interessados que por aí caminham sem saberem nem muito bem porquê nem como, que passaram por uma licenciatura e anseiam por algo mais, sem saberem bem o quê, mas mais, mais do que esta vida que não nos basta e não nos chega, porque quisémos mais e queremos mais para lá dos recibos brancos ou verdes, dos "cole-centeres" (como diria o nosso amigo Mário Zambujal) e dos centros de explicações, onde não somos senão carne para canhão, e tantas vezes nem isso, apenas números para apagar da lista conforme o patrão se vira para a direita ou para a esquerda enquanto a noite dorme, apenas e somente números sem nome ou letras, numerais, algarismos, unidades, dezenas, milhares de desempregados, quarenta mil professores, a todos quantos estejam dispostos a uma partida feita de sete mares, este blogue é para vocês, um instrumento de trabalho que eu quero de igual modo como instrumento de esperança, de acesso gratuito porque amanhã não é longe demais, é já aqui e agora, assim queira a tua mão.

sábado, 20 de outubro de 2012

Carta à Presidência da República de quem já se despediu


Carta à Presidência da República de quem já se despediu - enviada a 20 de Outubro de dois mil e doze


Exmo. Sr. Presidente da República,

Escrevo-lhe esta missiva na distância dos cinco anos que já nos separam quando, no dia cinco de Setembro do ano de dois mil e sete, outra alternativa não tive senão a de emigrar. Partida: Aeroporto da Portela. Destino: Londres, Inglaterra, à procura do tão almejado emprego como professor, emprego esse insistentemente negado neste Portugal que é o nosso mas ao qual não conseguimos pertencer. Na memória ainda viva a imagem da namorada e da irmã nos braços uma da outra, lavadas nas lágrimas de quem não sabe quando nos tornamos a ver, ou se nos tornamos a ver. Não há despedidas felizes. Um adeus é e será sempre um adeus, quando se entrega nas mãos de Deus a sorte e o destino dos viajantes deste mundo. Ou não tivessem as estações de comboios nomes de santos...
Portanto, vim só. Só e sem emprego, com pouco mais de uma morada no bolso e a esperança sem fim de construir noutro país a vida à qual todos temos direito quando a vontade de trabalhar é muita e a fome ainda maior. 
Vou ser sincero: em Portugal não somos nada. Licenciados sem trabalho, perdemos eras à procura de um emprego em conforme com os anos investidos num ensino superior. Vivemos da caridade alheia e sujeitamo-nos à indignidade de uma vida em tudo em desacordo com o estatuto adquirido. Merecemos melhor e queremos melhor. 
Em Londres, no entanto, consegui emprego em apenas três semanas como professor numa escola na zona leste, onde agora reside o Parque Olímpico. E assim começou aquela que é hoje uma história feliz. Não graças a Portugal. Não graças a si. Não graças ao seu Primeiro-Ministro e ao seu (des)Governo. Não graças ao Governo que o precedeu e mais os trinta e oito anos de más histórias legislativas. Graças a mim, graças a estes sapatos gastos nas ruas de Londres para não perder dinheiro nos transportes públicos, graças à fome, graças à saudade e ao desespero que só nos empurra para a frente, graças a um sistema Inglês que se baseia na meritocracia, graças a horas sem fim de trabalho porque quando estamos lá fora, porque quando estamos aqui fora, somos emigrantes não desejados e não queridos, porque temos de provar que somos (e somos) mais que os outros, mais que os Ingleses, maiores que os Ingleses, que nem sequer sabem a diferença entre Portugal e Espanha ou se sequer existe uma recessão lá para os nossos lados, de onde vimos, que pensam que no Allgarve somos todos espanhóis, mas que desde que trabalhemos recebem-nos de braços abertos. 
Ao fim de quatro meses trouxe para os meus braços a namorada deixada em lágrimas no Aeroporto de Lisboa. A minha irmã? Está emigrada na Alemanha e vive bem e feliz, muito obrigado.
Ao fim de dois anos casei. Ao fim de três anos, tornei-me Director de uma escola em Londres. Nos entretantos, já tinha feito de tudo um pouco no sistema de ensino Inglês e a reputação construída precedia-me. Hoje estou na sub-direcção de uma escola a quinze minutos da minha área de residência.
STOP. Abro aqui um parêntesis (Sr. Presidente da República, tendo em conta o aqui descrito, diga-me lá se não mais valia ter-me deixado ficar em Portugal?).
Profissionalmente realizei-me. Pessoalmente, temos uma casa e viajamos de seis em seis semanas. A Europa está quase toda vista e o ano passado fomos à África do Sul! Isto para já não falar do casamento real, dos Jogos Olímpicos, do Jubileu da Rainha e tanto que insiste em acontecer nesta cidade que é Londres. 
Trabalhamos sete dias por semana, mas não nos podemos cansar porque foi para isto que um dia, no já longínquo ano de dois mil e sete, saímos do país que nos viu nascer. Vamos a Portugal três vezes por ano. Voltar para Portugal, só na reforma. 
Entretanto, criei o seguinte blogue, já com mais de quarenta e quatro mil visitas, para assim poder partilhar com outros esta aventura, na esperança de que mais professores se nos juntem:


Hoje as condições de acesso ao sistema de ensino Inglês são mais exigentes. Mas há emprego, e a população estudantil não pára de crescer naquela que é uma das grandes cidades do Mundo.
E já não odeio o Portugal que me obrigou a partir. Hoje estou preocupado. Estou preocupado com o futuro do meu país e de todos quantos lá deixei, entre família e amigos. Acredito, e quero acreditar numa mudança e não defendo o presente caminho para Portugal. 
Sr. Presidente da República, esta missiva já se delonga. Resta-me convidar vossa Excelência a visitar as comunidades Portuguesas em Londres, conhecer as suas pessoas e a vivenciar este nosso dia-a-dia numa cidade de renome, a qual não é mais que uma Babilónia onde, independentemente da nossa origem, nos dão o devido valor quando aqui chegamos para vencer. Possa Portugal, com o seu apoio, enveredar pelo mesmo caminho - é simples: valorize a educação e a formação de um povo e não tenha medo que o mesmo, uma vez formado, ocupe o seu lugar. Para o bem de um país melhor.
Com os meus cumprimentos
João André Costa

6 comentários:

  1. Li a sua missiva me voz alta, para que todos aqui em casa pudessem ouvir. Também estive para ir para Angola, atrás do sonho de ser professora... Não fui, tontinha... continuo neste "barco perdido" em alto mar que é Portugal, muitas vezes com as lágrimas nos olhos (tiste com o futuro) e pareço uma desalmada a lutar, todos os dias, sem parar, para continuar com o sonho... É duro, está a ser desumano... Não sei até quando vou conseguir continuar. Esperança, tenho-a sempre comigo.

    Um grande Bem haja
    Felicidades
    SChainho

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    1. Obrigada pelas suas palavras! Temos de continuar, sempre continuar - Angola, Brasil, Moçambique, somos precisos em tantos lados, mas não somos precisos em Portugal - para a frente, sempre para a frente, não desista, porque há sempre quem de nós precise.
      João André Costa

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